segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Crise de Valores da Mídia


Diante do quadro de depressão generalizada da economia mundial, cabe-nos, como cidadãos antenados com o nosso mundo e nosso tempo, perguntar qual o papel ou papéis anteriores e atuais da mídia nacional e internacional sobre o tema, afim de nos mantermos corretamente informados sobre as causas e consequências desse evento, sobre o quanto da dívida dos gananciosos será repassada aos trabalhadores que verdadeiramente constroem as riquezas dos países.


Além do já sabido e amplamente divulgado assunto pelos meios de comunicação de dentro e fora do país, fica a impressão de que nos meses que antecederam a crise tudo corria bem, mas realmente não era esse o caso. Talvez essa impressão esteja diretamente ligada à falta de informação e atenção dispensadas às causas mais profundas da crise. 


No ano anterior ao desenvolvimento da quebra dos bancos americanos já haviam sinais de que a coisa não caminhava bem. Mas o maior problema é que, tradicionalmente, a imprensa sempre dá um “jeitinho” para deixar o cidadão sempre muito confiante. Ela age dessa forma para aumentar o credibilidade dos setores que a alimentam. Não dá para falar mal das grandes empresas e da forma como elas e os governos corruptos e descomprometidos com a população encaminham a economia (sim, porque são as grandes corporações que ditam as regras) se são eles também que sustentam a mídia dependente mundial. O cidadão desconfiado não compra, segura seus recursos, não se endivida, age com a razão e não com a emoção.


Se pararmos para pensar em como a economia ditada na época (quase totalmente infectada pelo neoliberalismo) e ainda hoje defendida por grande parte dos economistas, notaremos os absurdos contidos nos discursos do crescimento infinito das empresas e produtos e, consequentemente, do consumo irracional. Essa visão, além de ser notadamente ilógica, realça ainda mais a falta de uma política global da economia, acrescida de valores mais sólidos como bem estar social e felicidade, baseados em projetos futuros mais humanos e inteligentes e que direcionem essa mesma economia mundial para caminhos mais ecológicos e humanizantes.


Esse hoje é inclusive a base dos discursos de Nicolas Sarkozy. O presidente Francês embora esteja tentando alertar a Europa e os EUA sobre esse importante projeto conjunto, ainda não conseguiu que seu discurso fosse acolhido com a atenção que merece. Não defendo aqui a posição de nenhum político ou país, mas nesse caso o alerta de incertezas futuras mais uma vez está sendo negligenciado e a mídia por sua vez, ainda não se deu conta de que o mundo como era antes só vai terminar se velhos dogmas e burrices forem passadas à limpo.


Uma das falhas mais óbvias da mentalidade neoliberal é aquela que determina que as empresas devem conseguir o maior lucro possível em um menor tempo possível. Para isso, as grandes corporações contam com estratégias muito bem planejadas que desembocam em verdadeiras campanhas ideológicas de aumento de consumo irracional. A moda é apenas uma das estratégias para fazer algo que ainda serve se transformar em coisa obsoleta. A moda hoje não desfila apenas sobre os ombros e as coxas das lindas modelos, mas está sorrateiramente embutida em praticamente todos os produtos que consumimos. Hoje não consumimos produtos, mas estilos de vida. As pessoas estão fascinadas não pelo automóvel como meio de transporte, mas para aquilo que ele pode representar como status dentro da sociedade. Não se compram nem se vendem mais automóveis, roupas, sapatos, bolsas, cadernos, relógios, etc. mas desejos de preenchimento do vazio existencial que é o que se sente quando a vida é baseada no “ter” e não no “ser”.


Voltando um pouco à discussão sobre o lucro em tempo recorde buscado pelas corporações e empresas, veremos ainda que essa busca é por si só causa de grandes males às sociedades. Se, por exemplo, todas as empresas pagam baixos salários aos seus funcionários, na ânsia por maiores lucros, jogando-os ao endividamento e ao stress, a bolha maligna irá aumentar continuamente até estourar. O estouro poderá vir em várias formas e o que estamos presenciando é uma forma de explosão cuja causa principal é a ausência de confiança e capitalização dos consumidores mundiais. Fica fácil então entender qual foi uma das causas da atual crise.


Se todas as empresas do mundo diminuem os salários de seus empregados, deixando apenas uma margem pequena para que as pessoas sobrevivam e, continuamente exercendo pressão para o consumo desenfreado (endividamento) através da propaganda e massificação, fica óbvio que em determinado momento não haverá o mesmo número de consumidores e com as mesmas condições de continuarem comprando. Num sistema globalizado de estratégia de lucro e economia baseada nesse viés de consumo a bolha estoura e os pedaços caem praticamente sobre todas as partes do globo.


É esse um dos motivos de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apoiado pela mídia, conclamar as pessoas ao consumo. É esse o motivo também da redução do imposto de renda sobre a pessoa física no Brasil, é esse também o motivo pelo qual o governo chinês anda distribuindo dinheiro aos pobres e o novo presidente americano acenar com diminuição de impostos. Mas apenas conclamar as pessoas ao consumo não vai adiantar, porque o cidadão quer consumir, mas já não pode mais devido ao endividamento endêmico da classe média e da classe pobre. Tudo isso porém não passará de medidas paliativas, porque o que realmente precisaremos mudar são os valores das sociedades. Sociedades baseadas no lucro, ganância e consumo não terão futuro e se houver algum, ele certamente será bem pior do que o nosso presente.


Caberia à mídia nesse momento alertar as pessoas sobre as verdadeiras causas da depressão econômica que já bate às nossas portas. Com o crescente nível de desemprego, mais e mais pessoas deixarão de consumir, levando mais empresas a caírem em desgraça, gerando mais desempregos, numa bola de neve que só poderá ter um fim quando novos paradigmas forem adotados. Isso acontecerá enquanto o sistema econômico baseado na ganância pilotar o barco do mundo. Novas soluções deverão ser adotadas para diminuir as diferenças sociais e novas medidas deverão ser tomadas para conter a ganância de alguns em detrimento da qualidade de vida da maioria. Quando digo qualidade de vida não me refiro a vida baseada em consumo de porcarias desnecessárias, mas qualidade de vida baseada em paz, saúde, educação, respeito á natureza, ou seja, tudo que promove uma vida mais humanizada.


É a divulgação desses conceitos um dos principais deveres de uma mídia compromissada com o futuro sadio das sociedades e não apenas com o capital gerado, na maioria das vezes, por políticas econômicas e sociais enganosas, onde o sujeito mais “esperto”, desonesto, ladrão e enganador é o herói que deu certo. É o cara que dirige uma Ferrari e se veste com um Armani e que deixou em seu rastro uma multidão de empobrecidos, um mundo deteriorado tanto física quanto moralmente. São esses os heróis aclamados pela mídia e que servem de ícones para as novas gerações.


O papel da mídia, dos meios de comunicação, sempre foi e sempre será o de contribuir para o avanço intelectual e humano das sociedades, mas pelo que temos assistido, escutado e lido, a crise de valores da mídia pode ser ainda maior do que a crise econômica.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Em Nome de Deus


Os ataques israelenses à faixa de Gaza nas últimas três semanas deixam claro, mais do que a simples constatação de que o oriente médio é um barril de pólvora, que nossos olhos e ouvidos estão proibidos de saber e acompanhar o que realmente está acontecendo com a população civil que tenta sobreviver no meio de uma guerra estúpida numa região demograficamente superlotada.


Mais ainda, constatamos diariamente até onde vai o poder da mídia de informação, ou seja, até onde meia dúzia de genocidas, tanto de um lado como do outro, querem que vá. As notícias que sobram nos dão conta apenas dos fatos “autorizados” da guerra, mas sempre no chamado “tom imparcial”, cujo discurso garante sempre que a notícia e história referente á notícia não nos chegue com maior clareza. Nesse tom imparcial, nunca e nunca mesmo, vocês ouvirão falar que essa gente que deixa escorrer bombas e mísseis de última geração sobre as cabeças das pobres crianças tanto judias quanto palestinas, são pessoas com sérios problemas mentais, que nunca poderiam estar sentados com suas bundas grandes nas cadeiras onde mereciam estar, pessoas civilizadas, inteligentes e sensíveis.


Infelizmente ou terrivelmente, ou as duas coisas juntas, além das consequências por si só já tragicamente catastróficas das mortes de centenas, senão milhares de pessoas comuns (isso por hora não podemos conhecer), virão também, após essa escalada de violência canibalesca, outras tragédias que se somarão às já existentes, como o aumento do ódio entre dois povos da mesma origem, os traumas, as doenças mentais, as deformações do corpo, das personalidades, as doenças infecciosas, as subnutrições, as contaminações por agentes químicos e radiativos e todas as formas possíveis de horrores que sobrevivem a essas catástrofes inteligentemente e previamente planejadas.


Além disso tudo, fica faltando nos parece, uma informação que é das mais importantes:


Essa gente está sendo morta em nome de Deus!


Isso mesmo. Essa gente toda, tanto de um lado quanto do outro está sendo morta em nome do criador!


Essa importante informação não nos chega e nem nos chegará através da mídia jornalística, não por sua pseudo imparcialidade, mas porque vai ficar muito chato se de uma hora para outra descobrirmos que as religiões, tanto umas como quaisquer outras que enviam seus filhos para matar seus semelhantes, são religiões de mentira!


Esses povos, tanto os que tomaram as terras do outro como os que a querem de volta estão a se digladiar como animais no ringue porque acreditam que o Deus de um é mais poderoso, mais bondoso, mais sábio e inteligente do que o Deus do outro. Parece incrível, mas é a pura verdade.


Mas como o tom da mídia de informação é sempre muito imparcial, ela não pode entrar nos detalhes desse verdadeiro furo de reportagem, pois, já pensou o que vai acontecer com as igrejas, com os religiosos e com os assassinos de crianças que assinam acordos internacionais fajutos, quando descobrirmos que estamos no séc. XXI, com tecnologia suficiente para destruir o planeta várias vezes e deixar Nostradamus parecendo um vidente de esquina e ainda sermos levados a crer em Deuses que escolhem um povo em detrimento do outro?


Já pensaram o que vai acontecer depois que descobrirmos que todas as rezas e mísseis que sobem encomendando a morte de um semelhante é coisa fora de moda e que não condiz mais com entidades de carbono que têm cérebro e poder de raciocínio?


Já imaginaram quantos dízimos serão suspensos ou serão desviados pela população enfim atenta, a fim de suprir as necessidades básicas de seus semelhantes em dificuldades?


Vocês podem conceber a tamanha revolução que explodirá quando, ao invés de adorarmos uma imagem de barro, ou nos sentarmos dentro de um lugar ricamente decorado, repetindo frases velhas e sem sentimentos, com a cara no chão, ou balançando na frente de um muro calado e burro, tentando atrair o perdão, a clemência e a prosperidade sem fim, olharmos nos olhos de nossos semelhantes e descobrimos a divindade dentro de um templo de carne e osso?


Quem nesse momento teria coragem de assassinar um Deus? Quem teria a coragem de despejar bombas e mísseis sobre as cabeças desses seres divinos? Quem ousaria deixar essa criatura divina vivendo em valas, comendo restos e sentindo dores sem auxílio?


Mas é claro que disso não poderemos conhecer, pois conhecendo, um novo mundo se abriria para a humanidade. Esse furo de reportagem vocês jamais terão acesso. Isso está escondido e muito bem guardado sob as mangas dos rabinos, sob as calças dos muçulmanos, sob as sais dos padres e dos papas, dentro dos cofres de aço dos pastores, nas bibliotecas proibidas onde a mídia não vai e nem quer entrar.


Esse furo de reportagem iria de uma hora para outra arrasar com todos os tanques de quatro milhões de dólares, quebraria todas as plataformas de lançamento das infindáveis ogivas, afundaria todos os porta-aviões, fariam todos os senhores da guerra, fabricantes de armamentos, abrirem falência de suas fábricas de morte; definharia de vez todos os discursos militares que servem apenas de fachada para que uns comam mais e melhor que o restante.


Esse furo de reportagem dos milênios nos faria mais divinos, mais senhores e responsáveis pelas nossas próprias atitudes, nos deixaria mais calmos, mais amorosos, mais sábios, menos pedantes e egoístas; nos levaria a consumir menos, nos faria respeitar e cuidar bem melhor do grande templo vivo da natureza.


Essa notícia certamente faria tremer àqueles que sobrevivem das misérias humanas, das guerras, das doenças criadas em laboratório, de todas as faltas de condições básicas. Faria tremer os pais de todas as igrejas que, de uma hora para outra teriam que se despojar de suas vaidades e arrogâncias e descerem de seus púlpitos dourados e Limousines á prova de bala para encontrar um Deus caído na sarjeta e apoiá-lo, tratá-lo com todo o respeito que um ser de divinas dimensões deve ser tratado.


Esse simples fato que correria o mundo através dos jornais diários das televisões, das páginas escritas, pelas ondas dos rádios e pelos bits dos computadores, incendiando tudo o que é velho em nossas concepções e não nos serve mais, faria de nós terráqueos, seres em outra escala de evolução.


Que essa notícia chegue logo!