quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Democratização da Mídia e Educação


Do site do Observatório da Imprensa

Democratização da mídia e educação

Por Valério Cruz Brittos e Nadia Helena Schneider em 8/12/2009

A forte concentração dos meios de comunicação de massa representa um obstáculo para que o país se reconheça enquanto nação plural, comprometendo a diversidade informativa e cultural. Ante tal cenário, é relevante uma ampla discussão, com a participação de todas as visões presentes na sociedade, sobre o papel do Estado como esfera de regulação e fomento do sistema comunicacional. Isso porque cabe ao ente estatal definir políticas públicas de comunicação, educação e tecnologia, assim combatendo ações homogeneizantes e auxiliando na construção de processos midiáticos que permitam ao Brasil compreender-se em sua totalidade e desenvolver-se enquanto país de muitos rostos e vozes.

Nesse sentido, a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom) é um importante espaço de reflexão sobre as políticas de regulação da mídia, sobretudo das operações sob concessão pública (rádio e televisão abertos). Entre outros propósitos, a Conferência deve trazer à tona diferentes pontos de vista, revelando ser indispensável definir responsabilidades com a informação pública de qualidade, assim como o caráter educativo que nela deve estar presente, construindo uma agenda não-mercadológica a ser seguida pelos veículos.

A relevância da discussão desde o ângulo educacional pauta-se na constatação do grande público das indústrias culturais, em especial da TV, e da inegável força da mídia como produtora de sentidos e significados, com repercussão generalizada. Portanto, há uma dimensão socializadora nas ações da mídia que não pode ser menosprezada, visto que ela legitima valores e estimula comportamentos, através de seus programas, imagens e mensagens, ocasionando uma reconfiguração sócio-cultural, da qual faz parte.

Interatividade e Canal da Educação

A partir deste aspecto, é primordial, frente às mudanças provocadas pela digitalização, refletir como estão sendo desenvolvidas as políticas públicas e como devem ser definidos novos marcos regulatórios, para superar a concentração oligopólica e estimular os meios a cooperarem na promoção de melhorias do processo educacional, minimizando as desigualdades sociais. O Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) tem papel a cumprir na inclusão social dos cidadãos, na democratização da radiodifusão e na criação de uma rede universal de educação à distância, metas previstas no Decreto Presidencial 4901.

Tais objetivos consideram a relevante presença dos elementos midiático-tecnológicos na sociedade, que vêm transformando o modo dos indivíduos comunicarem-se, relacionarem-se e construírem conhecimentos, movimento potencializado com a digitalização. A escola, como espaço formal de educação, não pode ficar alheia a essas mudanças, sendo relevante refletir sobre a integração dos meios de comunicação no espaço de ensino e aprendizagem, em sua dimensão de ferramenta pedagógica para promover uma educação para e pela mídia. Pensar a responsabilidade social midiática exige uma reflexão sobre a importância de políticas públicas que também contemplem a educação nas áreas comunicacionais, valorizando a formação dos cidadãos e evitando que os meios funcionem basicamente como mecanismos favorecedores da dinâmica de acumulação de capital, beneficiando uma minoria.

A discussão sobre a TV digital merece atenção especial, dadas as perspectivas que se abrem ao campo educacional. No sentido de promover a educação diante das inovações tecnológicas, duas são as expectativas voltadas para a operação da televisão digital: a possibilidade da interatividade, citada no artigo 6 do Decreto 5.820, que implantou o Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre (SBTVD-T); e a abertura do Canal da Educação, mencionado no artigo 13 do referido diploma legal, atualmente em fase de planejamento, sob a coordenação do Ministério da Educação (MEC).

Compreensão, tecnologia e capacitação

A interatividade, uma característica dos novos meios digitais, vai ao encontro da necessidade de inovações nas práticas pedagógicas. A capacidade de interação entre o telespectador e a emissora e a convergência com outros aparelhos abrem ainda mais o leque de opções aplicativas de uso e propiciam o vislumbre preliminar de quais seriam os recursos que poderiam ser explorados nos processos de ensino-aprendizagem, na apropriação dos elementos de linguagem e nas alternativas técnicas para produção e transmissão do conhecimento.

Pensar um canal educativo público aberto, com lógicas não-comerciais, portanto, comprometido com a variedade cultural do país, a produção audiovisual nacional e um jornalismo plural, tem uma função importante na construção educacional da sociedade brasileira. Diante do exposto, aprofundar a discussão sobre a democratização da comunicação na Confecom é simultaneamente falar de cultura humana, economia, política, educação e desenvolvimento tecnológico, dentre outros temas que permeiam os espaços midiáticos. É ainda uma tentativa de assegurar bases democráticas para as mídias eletrônicas, na busca de atualização da legislação, defasada no passar de décadas.

Concluindo, é importante ressaltar que educar através das novas mídias exige que educadores e comunicadores abracem alguns objetivos comuns: a compreensão intelectual dos meios, o domínio da tecnologia e a capacitação para sua utilização livre e criativa. O caminho de promover uma educação pela mídia significa tanto comprometer emissoras a ofertar mais e melhores programas ao público, quanto lutar por mais canais educativos no sistema aberto de televisão.

domingo, 6 de setembro de 2009

BRASIL S/A.


Chega hoje ao Brasil, dia 6 de setembro de 2009, o presidente da França, Nicolas Sarkozy.

Não, ele não vem ao Brasil discutir com nosso representante máximo, parcerias na educação, troca de tecnologias na área de saúde, energia e construção.

Ele também não está aqui para falar sobre política econômica internacional e pedir apoio ao Brasil para pressionar a diminuição dos juros de financiamento aos países pobres ou a diminuição dos bônus aos executivos dos bancos que até há pouco tempo estavam sendo salvos com o dinheiro da população.

Ele também não veio se reunir com nossos políticos afim de refletir sobre o futuro do planeta e dos povos face aos problemas profundos que certamente todos nós enfrentaremos em breve com as mudanças climáticas.

Ele trouxe a esposa, mas não estão aqui para discutir a importância das artes, da literatura de qualidade e sua divulgação, ou criar estratégias conjuntas para evitar que o lixo cultural das televisões desvirtuem a visão ética de nossa população.

Ele está aqui para vender submarinos á nossa marinha, que certamente usará dinheiro público, nosso dinheiro, afim de manter uma frota sempre alerta para proteger os interesses dos acionistas da Petrobrás.

Nossos presidentes também fazem esse papel ridículo de representantes comerciais quando desembarcam em outras praias para vender etanol, laranjas, calcinhas, malas para viagem, sabonete, armas, etc.etc.etc.

Somos governados atualmente, todos nós, praticamente no mundo inteiro, por representantes comerciais. Alguns mais estudados e espertos se tornaram consultores de venda, mas a maioria é vendedor mesmo, iguais aqueles que chegam com palm top na padaria da esquina.

Esses caras representam outros interesses que estão acima dos interesses da população. Eles representam interesses que estão acima da educação, da saúde, da cultura, do pleno emprego, etc. Essas coisas não dão lucro, por isso que a gente não vê o presidente gastar tempo, energia e dinheiro, defendendo a qualidade da saúde, brigando com a oposição para a construção de novos e mais modernos hospitais como briga atualmente para aprovar a urgência do pré-sal.

Já repararam que quando se trata de algo que seja lucrativo para os empresários e banqueiros as discussões se tornam acirradas?

E onde entra a mídia, os meios de comunicação e informação nesse jogo? O papel deles é o mesmo que o papel de jornalzinho de empresa. Já viu jornalzinho de empresa falar mal da empresa? Já viu jornalzinho de empresa falar mal dos caras que são donos ou que administram a empresa? Já viu jornalzinho de empresa alertar seus funcionários contra a exploração da empresa?

Claro que não!

A empresa, ou seja, os donos da empresa e a administração da empresa estão acima de qualquer outra coisa.

Então, reflitam com cuidado e reparem que, se os nossos presidentes fizeram e ainda fazem o papel de representantes comerciais, vivemos então, há muito tempo, não mais num país, mas numa empresa. Somos apenas a figuração, um mal necessário que faz a empresa funcionar.

Está tudo escrito lá, todos os dias, como será fechado o negócio, quem vai lucrar, e quem vai pagar a conta. Está tudinho lá, todos os dias, nos jornaizinhos da empresa.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

A MÍDIA E A NOVA ORDEM MUNDIAL


A MÍDIA E A NOVA ORDEM MUNDIAL


Já faz algum tempo comecei a pesquisar sobre o Clube Bilderberg. Um grupo de multibilionários, banqueiros e políticos de mais alto escalão que se reúne secretamente de tempos em tempos, discretamente, com apoio incondicional da mídia, que faz de tudo para nos manter insconscientes dos fatos.

É assustador pensar que o que eles mais desejam é o que chamam de "Nova Ordem Mundial". Se tudo der certo e as expectativas desses senhores e senhoras se concretizarem, o ser humano viverá um regime de escravidão jamais sonhado por qualquer outra civilização em qualquer outra época da história da humanidade.

O clube se reuniu pela primeira vez em 1954, na Holanda e dentre seus adeptos e convidados podemos encontrar:

presidentes de bancos centrais de diversos países, especialistas em defesa, barões da imprensa de massa, ministros de governo, primeiros-ministros, membros de famílias reais, economistas internacionais e líderes políticos da Europa e da América do Norte. Alguns dos líderes financeiros e estrategistas de política externa do Ocidente participam do Bilderberg.

Donald Rumsfeld é um Bilderberger ativo, assim como Peter Sutherland, da Irlanda, um ex-comissário da União Européia e presidente do Goldman Sachs e British Petroleum.

Rumsfeld e Sutherland compareceram em conjunto em 2000, na câmara da companhia de energia suíço-sueca ABB.

O político e professor universitário Jorge Braga Macedo e Francisco Pinto Balsemão são dois exemplos portugueses.

O ex-secretário de defesa dos Estados Unidos e atual presidente do Banco Mundial Paul Wolfowitz também é um membro, assim como Roger Boothe Jr. O presidente atual do grupo é Etienne Davignon, empresário e político belga.

Outras pessoas bastante conhecidas seriam:

Henry Kissinger; David Rockefeller e família; George Bush e família; Bill Clinton e Hilary Clinton; Thimoty Geithner; Susan Rice; Gen James L. Jones; Thomas Donilon; Paul Volcker; Admiral D C Blair; Robert Gates; James Steinberg; Richard M Haass; Alan Greenspan; Richard C Holbrooke; and many others.

A lista é grande, são mais de 150 membros que se reúnem para discutir o que vamos assistir, o que vamos comprar, o que vamos comer, se vamos comer, qual será o próximo país a sofrer guerras, onde haverá fome, quem será o próximo presidente americano, que país quebrará, etc. etc.

O que mais assusta nisso tudo é que a imprensa mundial sabe do fato e não informa os cidadãos, não informa que o seu futuro e o futuro do planeta estão sendo decididos secretamente por gente que não está nem ai para ninguém.

Vale a pena assistir aos vídeos dos documentários no Youtube. Os endereços estão abaixo.

Quem sabe assim a gente poderia ter alguma coisa para conversar além da Fazenda e do Big Brother.

http://www.youtube.com/watch?v=IQGZp1E2b7E

http://www.youtube.com/watch?v=VhiS7qOwUKs


quarta-feira, 10 de junho de 2009

A Senhora Ditadura Está de Volta


Ontem, 9 de junho de 2009, pudemos ver ao vivo e a cores, na telinha de nossas televisões, no conforto mentiroso de nossas casas-prisões, a volta triunfante, da senhora ditadura.

Como não podia deixar de ser e como de outras vezes anteriores, a distinta senhora pousa com sua saia rodada e ensanguentada, cherando a gás lacrimogêneo temperado com pimenta, cercada de viaturas e soldados bem armados, para reivindicar a ordem e a justiça na terra dos estudantes.

Ela chega triunfal, com tiros de borracha, bombas - um verdadeiro desfile misto de carnaval, com direito a abre alas e porta bandeira, com blocos bem unidos e bem fardados, digo, fantasiados.

Chegou e foi direto para a USP onde foi recebida com indignação por quem trabalha, ensina e estuda, ajudando o país a salvar da miséria social e da ignorância um povo a quem os políticos de plantão estão acostumados a tirar até o sangue, a enrabar até a alma, afim de construir castelos e monumentos em lugar nenhum.

Ela chegou doida de ódio, espumando enxofre e pólvora. Essa senhora nunca permitiu e nunca permitirá que um bando de gente que sabe o que diz, arruaceiros letrados e bem informados, venha querer para si o que pertence aos banqueiros, aos grandes empresários e à administração corrupta.

Onde já viu essa gente querer ganhar mais, se alimentar melhor, exigir que o governo explique direitinho como é possível ensinar á distância sem comprometer o futuro? Onde já se viu essa gente querer para si o direito de questionar os caminhos daquilo que lhes pertence por direito?

Hoje, 10 de junho de 2009, a senhora estava em todas as telinhas e jornais vendilhões do país. Foi recebida com respeito de quem tem muita história para contar e nunca contou. Foi aclamada por poder estar trazendo de volta ás nossas ruas, escolas, universidades e favelas o gosto antigo e saudoso do cassetete nas costas, das prisões sem aviso e, quem sabe, das torturas e valas comuns que tanto fizeram a alegria daqueles que se escondem atrás da mentira, da ganância e do ódio.

Só que dessa vez, a senhora vem mais moderna, vem com câmeras pelas ruas, pelas praças, nas escolas, nos puteiros, nos banheiros das lojas, escondidas e bem disfarçadas em botões de camisas e alças de óculos. Dessa vez ela vem á forra, cercada da mais alta tecnologia da repressão. Saberá onde cada idiota se esconde através das micro-ondas de seus celulares. Saberá para onde cada veículo se dirige através dos leitores de chapa. Saberá o que você come, o que você fuma e o que você bebe. Você será denunciado pelos seus catões de crédito, de débito, de morte.

A senhora ditadura seberá exatamente como te vigiar, te torturar, te espezinhar. Além de contar com os senhores da informação, agora ela conta também com os senhores da delação eletrônica.

Vai ser uma festa quando essa senhora se instalar de vez sobre nosso futuro miserável.

domingo, 15 de março de 2009

O The Economist, As Novelas e o Pobre Cidadão


Em matéria de 13 de março de 2009, intitulada "Para 'Economist', telenovelas exerceram influência positiva no Brasil", o jornal online da BBC nos informa que a revista britânica acredita firmemente que "as novelas da TV Globo podem ter exercido uma influência positiva nos hábitos e comportamentos dos brasileiros".

 

Segundo o jornal, essa afirmação tem sua origem num artigo publicado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) cujo título é "Intitulado Soaps, sex and sociology ("Novelas, sexo e sociologia", em tradução livre)".

 

Para o BID, com a chegada do sinal de Rede Globo em algumas regiões, houve um aumento dos índices de natalidade e divórcios.

 

A revista afirma que o fato de a Globo mostrar em suas novelas uma realidade bem diferente da vivida pela maioria dos brasileiros - "com famílias menores e mais ricas que a média" -, teria estimulado modificações nestes dois importantes indicadores sociais.

 

Revela ainda que a venda das televisões foram estimuladas pela ditadura, quer queria construir "um senso de nação" num país de analfabetos e que muitos dos profissionais da televisão aproveitaram a oportunidade para atingir as massas.

 

Para finalizar, a BBC ainda nos repassa a informação de que o "The Economist" brinca afirmando que "se a Globo pudesse lançar agora uma novela sedutora sobre reforma tributária, a transformação do Brasil estaria completa"

 

Bem, se agente ler a matéria rapidamente e sem nenhum tipo de questionamento, fica parecendo que realmente as novelas da Rede Globo fizeram e fazem muito bem aos brasileiros. Vindo do BID eu duvido! Porque o banco lançaria um artigo desses? À toa?

E porque propagandear esse artigo, à primeira vista ínfimo, numa revista inglesa tão importante?

E porque ela foi parar num jornal online inglês feito para nós, brasileiros?

Questionando algumas coisas que estão sendo afirmadas poderemos ter uma visão bem diferente do que eles chamam de “influência positiva no Brasil”.

 

- O aumento de natalidade (e nesse caso acima da média em determinadas regiões, que inclusive não foram citadas) interessaria a quem? Às famílias ou ao próprio sistema capitalista?

- O aumento de divórcios é positivo em que sentido? No sentido de deixar milhares ou milhões de crianças órfãos de pai ou mãe, e em certas condições dos dois? Oi de trazer á tona algo que não estaria funcionando direito dentro das famílias brasileiras?

- Se a Globo vem mostrando uma realidade bem diferente da maioria da população, eu pergunto que tipo de cultura disseminada é essa? Ela serve a quem? Porque fica claro que à população (que gostaria de ter sua cultura, gostos e modos de vida respeitados) está então sendo enganada e roubada em seu patrimônio cultural.

- O artigo revela ainda que as televisões foram estimuladas pela ditadura. Mas para que? Para levar cultura e conhecimento à população ou para exercer o tipo de escravidão cultural e de valores que até hoje estamos submetidos? Sim, porque como afirmam no artigo, se alguns profissionais aproveitaram para atingir as massas, os militares, treinados na época pela CIA, também não estavam fazendo o mesmo, mas com outras intenções?

- Se a transformação do Brasil seria completa caso a Globo lançasse uma novela provocando a reforma tributária, não estaria ai então a prova cabal de que somos governados pela mídia e não pelos políticos nos quais votamos?

Se for assim então, é preciso deixar bem claro que o voto não adianta nada e que o que adianta mesmo é uma boa novelinha no início da noite.

 

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Crise de Valores da Mídia


Diante do quadro de depressão generalizada da economia mundial, cabe-nos, como cidadãos antenados com o nosso mundo e nosso tempo, perguntar qual o papel ou papéis anteriores e atuais da mídia nacional e internacional sobre o tema, afim de nos mantermos corretamente informados sobre as causas e consequências desse evento, sobre o quanto da dívida dos gananciosos será repassada aos trabalhadores que verdadeiramente constroem as riquezas dos países.


Além do já sabido e amplamente divulgado assunto pelos meios de comunicação de dentro e fora do país, fica a impressão de que nos meses que antecederam a crise tudo corria bem, mas realmente não era esse o caso. Talvez essa impressão esteja diretamente ligada à falta de informação e atenção dispensadas às causas mais profundas da crise. 


No ano anterior ao desenvolvimento da quebra dos bancos americanos já haviam sinais de que a coisa não caminhava bem. Mas o maior problema é que, tradicionalmente, a imprensa sempre dá um “jeitinho” para deixar o cidadão sempre muito confiante. Ela age dessa forma para aumentar o credibilidade dos setores que a alimentam. Não dá para falar mal das grandes empresas e da forma como elas e os governos corruptos e descomprometidos com a população encaminham a economia (sim, porque são as grandes corporações que ditam as regras) se são eles também que sustentam a mídia dependente mundial. O cidadão desconfiado não compra, segura seus recursos, não se endivida, age com a razão e não com a emoção.


Se pararmos para pensar em como a economia ditada na época (quase totalmente infectada pelo neoliberalismo) e ainda hoje defendida por grande parte dos economistas, notaremos os absurdos contidos nos discursos do crescimento infinito das empresas e produtos e, consequentemente, do consumo irracional. Essa visão, além de ser notadamente ilógica, realça ainda mais a falta de uma política global da economia, acrescida de valores mais sólidos como bem estar social e felicidade, baseados em projetos futuros mais humanos e inteligentes e que direcionem essa mesma economia mundial para caminhos mais ecológicos e humanizantes.


Esse hoje é inclusive a base dos discursos de Nicolas Sarkozy. O presidente Francês embora esteja tentando alertar a Europa e os EUA sobre esse importante projeto conjunto, ainda não conseguiu que seu discurso fosse acolhido com a atenção que merece. Não defendo aqui a posição de nenhum político ou país, mas nesse caso o alerta de incertezas futuras mais uma vez está sendo negligenciado e a mídia por sua vez, ainda não se deu conta de que o mundo como era antes só vai terminar se velhos dogmas e burrices forem passadas à limpo.


Uma das falhas mais óbvias da mentalidade neoliberal é aquela que determina que as empresas devem conseguir o maior lucro possível em um menor tempo possível. Para isso, as grandes corporações contam com estratégias muito bem planejadas que desembocam em verdadeiras campanhas ideológicas de aumento de consumo irracional. A moda é apenas uma das estratégias para fazer algo que ainda serve se transformar em coisa obsoleta. A moda hoje não desfila apenas sobre os ombros e as coxas das lindas modelos, mas está sorrateiramente embutida em praticamente todos os produtos que consumimos. Hoje não consumimos produtos, mas estilos de vida. As pessoas estão fascinadas não pelo automóvel como meio de transporte, mas para aquilo que ele pode representar como status dentro da sociedade. Não se compram nem se vendem mais automóveis, roupas, sapatos, bolsas, cadernos, relógios, etc. mas desejos de preenchimento do vazio existencial que é o que se sente quando a vida é baseada no “ter” e não no “ser”.


Voltando um pouco à discussão sobre o lucro em tempo recorde buscado pelas corporações e empresas, veremos ainda que essa busca é por si só causa de grandes males às sociedades. Se, por exemplo, todas as empresas pagam baixos salários aos seus funcionários, na ânsia por maiores lucros, jogando-os ao endividamento e ao stress, a bolha maligna irá aumentar continuamente até estourar. O estouro poderá vir em várias formas e o que estamos presenciando é uma forma de explosão cuja causa principal é a ausência de confiança e capitalização dos consumidores mundiais. Fica fácil então entender qual foi uma das causas da atual crise.


Se todas as empresas do mundo diminuem os salários de seus empregados, deixando apenas uma margem pequena para que as pessoas sobrevivam e, continuamente exercendo pressão para o consumo desenfreado (endividamento) através da propaganda e massificação, fica óbvio que em determinado momento não haverá o mesmo número de consumidores e com as mesmas condições de continuarem comprando. Num sistema globalizado de estratégia de lucro e economia baseada nesse viés de consumo a bolha estoura e os pedaços caem praticamente sobre todas as partes do globo.


É esse um dos motivos de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apoiado pela mídia, conclamar as pessoas ao consumo. É esse o motivo também da redução do imposto de renda sobre a pessoa física no Brasil, é esse também o motivo pelo qual o governo chinês anda distribuindo dinheiro aos pobres e o novo presidente americano acenar com diminuição de impostos. Mas apenas conclamar as pessoas ao consumo não vai adiantar, porque o cidadão quer consumir, mas já não pode mais devido ao endividamento endêmico da classe média e da classe pobre. Tudo isso porém não passará de medidas paliativas, porque o que realmente precisaremos mudar são os valores das sociedades. Sociedades baseadas no lucro, ganância e consumo não terão futuro e se houver algum, ele certamente será bem pior do que o nosso presente.


Caberia à mídia nesse momento alertar as pessoas sobre as verdadeiras causas da depressão econômica que já bate às nossas portas. Com o crescente nível de desemprego, mais e mais pessoas deixarão de consumir, levando mais empresas a caírem em desgraça, gerando mais desempregos, numa bola de neve que só poderá ter um fim quando novos paradigmas forem adotados. Isso acontecerá enquanto o sistema econômico baseado na ganância pilotar o barco do mundo. Novas soluções deverão ser adotadas para diminuir as diferenças sociais e novas medidas deverão ser tomadas para conter a ganância de alguns em detrimento da qualidade de vida da maioria. Quando digo qualidade de vida não me refiro a vida baseada em consumo de porcarias desnecessárias, mas qualidade de vida baseada em paz, saúde, educação, respeito á natureza, ou seja, tudo que promove uma vida mais humanizada.


É a divulgação desses conceitos um dos principais deveres de uma mídia compromissada com o futuro sadio das sociedades e não apenas com o capital gerado, na maioria das vezes, por políticas econômicas e sociais enganosas, onde o sujeito mais “esperto”, desonesto, ladrão e enganador é o herói que deu certo. É o cara que dirige uma Ferrari e se veste com um Armani e que deixou em seu rastro uma multidão de empobrecidos, um mundo deteriorado tanto física quanto moralmente. São esses os heróis aclamados pela mídia e que servem de ícones para as novas gerações.


O papel da mídia, dos meios de comunicação, sempre foi e sempre será o de contribuir para o avanço intelectual e humano das sociedades, mas pelo que temos assistido, escutado e lido, a crise de valores da mídia pode ser ainda maior do que a crise econômica.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Em Nome de Deus


Os ataques israelenses à faixa de Gaza nas últimas três semanas deixam claro, mais do que a simples constatação de que o oriente médio é um barril de pólvora, que nossos olhos e ouvidos estão proibidos de saber e acompanhar o que realmente está acontecendo com a população civil que tenta sobreviver no meio de uma guerra estúpida numa região demograficamente superlotada.


Mais ainda, constatamos diariamente até onde vai o poder da mídia de informação, ou seja, até onde meia dúzia de genocidas, tanto de um lado como do outro, querem que vá. As notícias que sobram nos dão conta apenas dos fatos “autorizados” da guerra, mas sempre no chamado “tom imparcial”, cujo discurso garante sempre que a notícia e história referente á notícia não nos chegue com maior clareza. Nesse tom imparcial, nunca e nunca mesmo, vocês ouvirão falar que essa gente que deixa escorrer bombas e mísseis de última geração sobre as cabeças das pobres crianças tanto judias quanto palestinas, são pessoas com sérios problemas mentais, que nunca poderiam estar sentados com suas bundas grandes nas cadeiras onde mereciam estar, pessoas civilizadas, inteligentes e sensíveis.


Infelizmente ou terrivelmente, ou as duas coisas juntas, além das consequências por si só já tragicamente catastróficas das mortes de centenas, senão milhares de pessoas comuns (isso por hora não podemos conhecer), virão também, após essa escalada de violência canibalesca, outras tragédias que se somarão às já existentes, como o aumento do ódio entre dois povos da mesma origem, os traumas, as doenças mentais, as deformações do corpo, das personalidades, as doenças infecciosas, as subnutrições, as contaminações por agentes químicos e radiativos e todas as formas possíveis de horrores que sobrevivem a essas catástrofes inteligentemente e previamente planejadas.


Além disso tudo, fica faltando nos parece, uma informação que é das mais importantes:


Essa gente está sendo morta em nome de Deus!


Isso mesmo. Essa gente toda, tanto de um lado quanto do outro está sendo morta em nome do criador!


Essa importante informação não nos chega e nem nos chegará através da mídia jornalística, não por sua pseudo imparcialidade, mas porque vai ficar muito chato se de uma hora para outra descobrirmos que as religiões, tanto umas como quaisquer outras que enviam seus filhos para matar seus semelhantes, são religiões de mentira!


Esses povos, tanto os que tomaram as terras do outro como os que a querem de volta estão a se digladiar como animais no ringue porque acreditam que o Deus de um é mais poderoso, mais bondoso, mais sábio e inteligente do que o Deus do outro. Parece incrível, mas é a pura verdade.


Mas como o tom da mídia de informação é sempre muito imparcial, ela não pode entrar nos detalhes desse verdadeiro furo de reportagem, pois, já pensou o que vai acontecer com as igrejas, com os religiosos e com os assassinos de crianças que assinam acordos internacionais fajutos, quando descobrirmos que estamos no séc. XXI, com tecnologia suficiente para destruir o planeta várias vezes e deixar Nostradamus parecendo um vidente de esquina e ainda sermos levados a crer em Deuses que escolhem um povo em detrimento do outro?


Já pensaram o que vai acontecer depois que descobrirmos que todas as rezas e mísseis que sobem encomendando a morte de um semelhante é coisa fora de moda e que não condiz mais com entidades de carbono que têm cérebro e poder de raciocínio?


Já imaginaram quantos dízimos serão suspensos ou serão desviados pela população enfim atenta, a fim de suprir as necessidades básicas de seus semelhantes em dificuldades?


Vocês podem conceber a tamanha revolução que explodirá quando, ao invés de adorarmos uma imagem de barro, ou nos sentarmos dentro de um lugar ricamente decorado, repetindo frases velhas e sem sentimentos, com a cara no chão, ou balançando na frente de um muro calado e burro, tentando atrair o perdão, a clemência e a prosperidade sem fim, olharmos nos olhos de nossos semelhantes e descobrimos a divindade dentro de um templo de carne e osso?


Quem nesse momento teria coragem de assassinar um Deus? Quem teria a coragem de despejar bombas e mísseis sobre as cabeças desses seres divinos? Quem ousaria deixar essa criatura divina vivendo em valas, comendo restos e sentindo dores sem auxílio?


Mas é claro que disso não poderemos conhecer, pois conhecendo, um novo mundo se abriria para a humanidade. Esse furo de reportagem vocês jamais terão acesso. Isso está escondido e muito bem guardado sob as mangas dos rabinos, sob as calças dos muçulmanos, sob as sais dos padres e dos papas, dentro dos cofres de aço dos pastores, nas bibliotecas proibidas onde a mídia não vai e nem quer entrar.


Esse furo de reportagem iria de uma hora para outra arrasar com todos os tanques de quatro milhões de dólares, quebraria todas as plataformas de lançamento das infindáveis ogivas, afundaria todos os porta-aviões, fariam todos os senhores da guerra, fabricantes de armamentos, abrirem falência de suas fábricas de morte; definharia de vez todos os discursos militares que servem apenas de fachada para que uns comam mais e melhor que o restante.


Esse furo de reportagem dos milênios nos faria mais divinos, mais senhores e responsáveis pelas nossas próprias atitudes, nos deixaria mais calmos, mais amorosos, mais sábios, menos pedantes e egoístas; nos levaria a consumir menos, nos faria respeitar e cuidar bem melhor do grande templo vivo da natureza.


Essa notícia certamente faria tremer àqueles que sobrevivem das misérias humanas, das guerras, das doenças criadas em laboratório, de todas as faltas de condições básicas. Faria tremer os pais de todas as igrejas que, de uma hora para outra teriam que se despojar de suas vaidades e arrogâncias e descerem de seus púlpitos dourados e Limousines á prova de bala para encontrar um Deus caído na sarjeta e apoiá-lo, tratá-lo com todo o respeito que um ser de divinas dimensões deve ser tratado.


Esse simples fato que correria o mundo através dos jornais diários das televisões, das páginas escritas, pelas ondas dos rádios e pelos bits dos computadores, incendiando tudo o que é velho em nossas concepções e não nos serve mais, faria de nós terráqueos, seres em outra escala de evolução.


Que essa notícia chegue logo!