quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

A Previdência, A linha e as Entrelinhas




É realmente de espantar como a mídia nacional quer nos fazer de otários a fim de encobrir a corrupção, incompetência e safadeza de nossos governantes passados, presentes e provavelmente futuros.

No dia 25 de dezembro passado a folha on-line veiculou matéria sobre os estudos do IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - sobre os índices de gastos previdenciários no Brasil.

No primeiro parágrafo da matéria o jornal informa que "o IPEA coloca o Brasil no topo da lista de países com maior gasto previdenciário no mundo, ao lado de Áustria, Polônia, Suíça e Uruguai, países com população mais envelhecida".

Já no terceiro parágrafo o jornal informa que "pelo tradicional "gasto como proporção do PIB" --conceito mais usual e também considerado no estudo--, os gastos com Previdência do Brasil correspondem a 11,7% do PIB e colocam o país como o 14º com mais gastos previdenciários no mundo, atrás de países como Itália (17,6%), Ucrânia (15,4%) e Uruguai (15%)".

Então não dá para entender qual a notícia correta. Ou o Brasil está no topo da lista (o que significaria estar em primeiro lugar) - pelo menos na minha época estar no topo era o mesmo que ser o primeiro - ou está no décimo quarto lugar, como afirmam no terceiro parágrafo.

Depois de uma chuva de números, da colocada afirmação do pesquisador do IPEA, Marcelo Caetano, de que "se um país tem muitos idosos, é aceitável que tenha uma despesa maior, mas não é o caso do Brasil", o jornal cita que "em entrevista, o ministro Luiz Marinho, responsável pela pasta, defendeu uma reforma cujo ponto principal é o aumento do tempo mínimo de contribuição em, ao menos, cinco anos - atualmente, o período é de 30 anos para mulheres e 35 para homens".

Essa lengalenga já é antiga e a nosso mídia oferece mais uma vez seu espaço, que deveria ser utilizado de forma cuidadosa, aos políticos de plantão, que não conseguem explicar até hoje, onde foi parar todo o dinheiro da previdência brasileira que deveria ter sido aplicado, gerando recursos futuros para pagamento dos benefícios presentes. Esse pacto foi feito com todos os trabalhadores no passado, que deram o suor de seus rostos para que o dinheiro da previdência, que deveria suprir os sistemas de saúde e aposentadoria, chegasse até eles de forma efetiva, através de programas sólidos e não fosse para a latrina política, como grande parte foi.

Gostaria muito mesmo que a folha e outros jornais do país também mostrassem todos os números que nos são negados, principalmente aqueles que vêm acompanhados com os nomes dos partidos e dos políticos que afanaram durante anos o dinheiro que devia ser bem empregado.

Agora, mais uma vez, a mídia tenta passar a idéia de que a culpa é nossa, e que, coitadinho do governo, vai ter que mudar as regras do jogo e fazer o cidadão de otário mais uma vez, pagando pelo que não deve e, ao contrário, teria de receber.

Muito bem. Teremos daqui alguns anos no Brasil uma legião de vovós e vovôs tomando o emprego de gente jovem. A não ser que o golpe seja mais sujo ainda e eles pretendam jogar toda essa gente no lixo justo na hora deles receberem os benefícios pelos quais pagaram a vida inteira. Tudo é possível, contanto que os nossos políticos continuem se aposentando com oito anos de mandato.

Vai ver que a vida é assim mesmo e não contaram pra gente.

A Liquidação do Natal


Durante essas semanas que antecederam o natal e mesmo nos dias mais próximos não consegui ver nas telas de TVs abertas e jornais eletrônicos do país, nada, mas nada mesmo sobre o significado dessa data tão importante para o calendário religioso do país.


O que vi foi apenas uma alarmante demonstração de como empresários do país e a mídia em geral transformaram o natal apenas em negócio e lucro.


Numa enchurrada de reportagens sobre como o consumidor deveria comprar, comprar e comprar para não deixar a data passar em branco, me fez lembrar da história do Mestre da Galiléia entrando no templo e espulsando os vendilhões com chicote em mãos.


Uma rede ou outra deve ter veiculado alguma programação mais específica sobre o significado da data, mas sinceramente o que assisti o tempo todo foi o invenstimento no consumismo exacerbado. Gente se acotovelando e se mordendo para comprar alguma porcaria nessas liquidações da 25 de Março ou da Saara carioca.


Fico imaginando que daqui alguns anos ninguém vai saber o que se está comemorando. Gente mais jovem vai achar que o natal é o dia apenas do Papai Noel e de sua trupe de renas.


Além do consumo das porcarias chinesas para encher ainda mais as crianças com a doença do consumismo, a apelação também foi a comida. Gente correndo para lá e para cá para não deixar de acumular na mesa o que provavelmente deve faltar para muita gente.


Com tanta comida e tanto desperdício parece que estamos comemorando o aniversário de algum "César" e não do menino divino nascido em Belém.


Tomara que um dia as pessoas se cansem dessa orgia do consumo e voltemos a ter novamente um natal com espírito de natal e não de "liquidação sensacional".

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Todo Mundo Quer Ajudar, Mas Ninguém Quer Parar de Comprar


Essa semana acontece em Bali, na Indonésia, com a participação de mais de 130 ministros de estado, mais uma cúpula mundial para discussão das medidas a serem tomadas para amenizar o efeito estufa que está elevando a temperatura do planeta e que, segundo a maioria dos cientistas não-pagos por empresas internacionais para dizerem o contrário, pode ser extremamente perigoso para a raça humana, pois em um futuro breve os níveis dos oceanos vão se elevar, o clima do planeta vai mudar radicalmente, florestas e rios irão desaparecer, uma variedade enorme de espécies animais e vegetais vão se extinguir e, com certeza, muita gente vai embarcar dessa para uma melhor.

A mídia, seja daqui do país do carnaval ou de lá do outro lado do mundo, da terra do Ching Ling, cumpre seu papel de desinformar e/ou de direcionar as mentes mais fracas para o que ela deseja que seja visto e pensado.

Por exemplo: ouve-se muito a mídia falar sobre as mudanças climáticas, mas muito pouco de quem são os responsáveis. Quando se fala em lucros para o país sempre a mídia corre na janela e grita aos quatro ventos os nomes das empresas que mais lucram, mas quando se trata de falar sobre quem está produzindo o aquecimento global ou contribuindo para que as coisas fiquem do mesmo jeito, nomes não são citados. Fica-se naquela generalização que tudo engloba e nada se explica.

Mas não é apenas isso. O mais espantoso é que, ao mesmo tempo em que a mídia corre de porta em porta batendo, esperneando e choramingando que o mundo pode acabar, ela sequer tem a coragem de tomar o assunto com a seriedade que merece e avisar o cidadão comum que ele tem um papel fundamental no processo todo.

Talvez ela haja dessa forma para não dar a entender que o cidadão comum, aquele que come pastel na feira, tem um papel fundamental em todas as coisas importantes que existem no mundo e que sua força está diretamente relacionada ao que ele sabe e conhece do mundo real.

Sim, porque se o cidadão soubesse de verdade que ele é quem manda em tudo, inclusive nos preços de todas as coisas, bem que a coisa poderia mudar não é mesmo?

No caso do efeito estufa, a mídia esquece de dizer ao cidadão que o que está acontecendo no mundo, é conseqüência em grande parte, de nossos hábitos de vida e consumo.

Mas quem é que vai dizer ao cidadão que ele deve parar de consumir as porcarias que não precisa de fato? Claro que não será a mídia, que vive exatamente disso, ou seja, das vendas das propagandas das porcarias que não precisamos de fato para sermos felizes e vivermos em paz.

Quando a mídia quiser de verdade discutir as mudanças climáticas, vai ter então que discutir nossos hábitos de consumo, e aí, como é que ela vai ganhar o seu rico dinheirinho se tiver que dizer para as pessoas que elas têm que parar com essa de consumir sem precisar?

É isso aí. Todo mundo quer ajudar, ninguém quer informar e muito menos parar de comprar.

sábado, 8 de dezembro de 2007

O Carnaval e a Farra do Patronismo


Pelo motivo das escolas de samba do Rio de Janeiro estarem dando um show de corrupção e envolvimento com bicheiros e traficantes, o presidente do Brasil resolve condecorá-las com R$ 12.000.000,00 (doze milhões de reais). R$ 1.000.000,00 (um milhão) para cada uma.


Isso é que gostar de carnaval não é mesmo presidente?


Enquanto isso, a mídia dorme nas arquibancadas, de uma ressaca sem-vergonha, e esquece de perguntar porque outros artistas do país, menos felizes e alegres, mais preocupados com uma cultura que faça pensar, e não aquela do pão e circo carnavalesco de todos os anos, têm que encarar duras travessias através das estradas espinhosas dos trâmites buracráticos das leis de incentivo e aguentar ainda por cima, o ranso dos marqueteiros das empresas "patrocinadoras".


A ressaca vai ainda mais longe quando a mídia regurgita notícias do dia anterior, bota o que sobra para fora, se esquecendo de que os leitores precisam saber exatamente como é que funciona esse negócio de presidente dar dinheiro para qualquer amigo de traficante sem ter que prestar contas desse dinheiro.


A ressaca é tão brava que a mídia não consegue nem levantar o olho, coçar a cabeça e erguer o braço, para apenas tentar perguntar por que um presidente da república pode sair por aí distribuindo dinheiro a seu bem entender, sem perguntar para os donos do dinheiro se isso é justo, correto ou não.


Mas o dinheiro vem de algumas empresas petroquímicas, não é do presidente nem dos cofres públicos.


Há, entendi! Quer dizer que o presidente sai por aí distribuindo dinheiro que não é dele? Que raio de emprego é esse. Eu também quero um.

Essas empresas então já haviam dito ao presidente que ele poderia usar o dinheiro para dar aos cartolas, ou o presidente foi atrás das empresas pedir esse dinheiro?


Se as empresas procuraram o presidente para dar o dinheiro é porque elas não podiam elas mesmas dar o dinheiro? Que coisa, será que não tinham ninguém lá para fazer isso?


Se o presidente foi pedir o dinheiro para as empresas e elas deram, será que essas empresas não pediram nada em troca? Que coisa interessante, porque eu vejo essas empresas lutarem tanto por seu rico dinheirinho quando os sindicatos pedem um aumento de salário justo. Será que essas empresas gostam tanto de carnaval assim?


Cada coisa que acontece nesse país né?

Eu queira saber mais sobre o assunto, mas a mídia parece que está sempre de ressaca.

Bom, carnaval é para isso aí mesmo, pra gente esquecer de tudo, inclusive que precisa ser melhor informado.


Ai que vida boa olerê,

ai que vida boa olará,

o estandarte do sanatório geral vai passar.


segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

O Rei, 0 Presidente e a Mídia

É mesmo insuportável verificar o quanto a mídia nacional e internacional, que serve aos poderosos, joga a com a hipocrisia, a farsa e a mentira.

No caso da Venezuela dos últimos dias, a mídia nacional brasileira provocou no cidadão mais antenado com seu mundo e com seu tempo, uma espécie de asco e, agora, depois da derrota de Chaves no plebiscito, que definiria se ele poderia ou não se reeleger indefinidamente, pudemos realmente entender como essa mídia, ora tagarela uma coisa e a usa para atacar um oponente, ora esconde outra, para acabar de vez com a verdade.

No caso do presidente Chaves, ofendido pelo rei da Espanha, que está no poder indefinidamente e o conseguiu por meios ilícitos e não populares, a mídia o defendeu com unhas e dentes. Um rei-ditador mandando calar a boca um chefe de estado legitimamente eleito pelo seu povo. E a mídia ainda o defende.

Aos olhos da mídia, o rei-ditador sim, esse sim poderá ficar indefinidamente no poder, mesmo que não eleito pela população, mas, ao contrário, o Chaves, o chato, aquele que privatizou os bens de seu país, que devolveu empresas, dinheiro e dignidade aos seus cidadãos, que enfrenta os absurdos da era Bush, esse não, esse não pode ser presidente quantas vezes o povo quiser. Está proibido. Aos olhos da mídia isso não seria bom, não seria justo, não seria correto.
Fica aqui então declarado a partir de hoje, que a mídia não gosta de presidentes eleitos, apenas de reis-ditadores.

sábado, 1 de dezembro de 2007

A Mídia, a Arte e a Guerra


Essa semana a mídia aproveitou a idéia fantástica de um jovem designer carioca para enterrar de vez a noção crítica do cidadão e, para ser mais exato, a noção de arte e sua função na sociedade.


Em meio a uma avalanche de opiniões contrárias que vão, desde a do secretário de segurança do Rio de Janeiro até o seu Manoel da padaria, o jogo "War In Rio", criado por Fábio Lopes, foi a coqueluche da semana.


O que não ficou bem explicado pela imprensa e pela mídia em geral é, porque um simples jogo, cujas regras foram baseadas na violência dos diversos grupos que brigam pelo poder nas áreas pobres e suburbanas do Rio de Janeiro, causou tanta comoção.


Seria simples explicar que, mesmo que o designer ache que seu jogo foi apenas uma brincadeira de mau gosto, trata-se mais do que isso. Trata-se de arte. Sim, isso mesmo - trata-se de arte.
A arte é assim mesmo. A arte é teimosa, turrona e mal educada com os absurdos. Não admite ser enganada. Não tem medo de reações. Aliás, a arte adora reações.


O que está acontecendo nesse país é que o cidadão comum já não reconhece a arte. Está envolvido com o entretenimento até o pescoço e com a idéia de que entretenimento é arte. Quando então a arte aparece, ele já não a reconhece.


Existe uma diferença fundamental entre arte e entretenimento. Enquanto o entretenimento faz apenas isso, ou seja, entreter, ludibriar os sentidos, enganar. A arte, pelo contrário, desperta, faz os sentidos, a mente e o espírito acordarem. Mostra novos caminhos, novos conceitos, altera paradigmas.


O jogo do designer Fábio Lopes não é apenas um jogo, mas um objeto de arte. Por essa razão causou tanta discussão e polêmica. Ao colocar num tabuleiro qualquer os personagens da famigerada guerra civil carioca, o designer materializou o sentimento e deu luz à consciência de milhares, senão milhões de pessoas no país. O jogo não é apenas um objeto de design. O jogo é uma obra de arte que ressalta a banalização da vida dessa pobre gente que vive vilipendiada por um poder público inócuo, assim como inócuos são seus representantes. E também, pelas facções, todas elas bandidas, que se aproveitaram do vácuo de atenção deixado por esse mesmo estado.

Além disso, o jogo do designer coloca uma outra questão, também não menos séria, que é a da definição do que podemos ou não expressar. Claro que o secretário de segurança pública do Rio de Janeiro se sentiu perturbado. Falou até em apologia ao crime. Como se o jogo, no caso, a meu ver, a obra de arte, fosse levar mais corrupção, milícias e traficantes para os morros do Rio. O que fica bem claro então, é que num país onde existe uma ditadura da informação e do entretenimento, fazer arte, se expressar genialmente, pode virar até crime. Isso é um grande perigo. O maior de todos.

Existe uma história muito interessante sobre Picasso.

Dizem que depois de ter pintado Guernica, recebeu a visita de um oficial nazista em seu atelier. O oficial passou cuidadosamente os olhos sobre a obra do mestre, que retratava os horrores do bombardeio da força aérea e exército do generalíssimo Franco sobre a população civil da cidade de Guernica, na Espanha, com o apoio de Hitler. Passou os olhos, andou de lá para cá e daqui para lá, enfim, com olhar inquisidor, dirigiu-se a Picasso e disse:

- Foi você quem fez isso?

E Picasso, com seu humor sarcástico de artista vivo e genial lhe respondeu:

- Não, foram vocês!

Agora fiquei sabendo por que as galerias de arte desse país estão cheias de lixo, de vazio, de arte morta. É porque estamos assistindo, há mais de uma geração, ao poder do entretenimento.


Arte é coisa séria. Artistas de verdade foram perseguidos em todas as épocas. Suas idéias sempre foram perigosas. Sempre alertaram, iluminaram o que estava escuro, escondido nas entranhas do poder e da maldade.


Agora eu sei também porque a lei Rouanet é tão perversa. Essa lei de incentivo, criada na era Collor, visa apenas ao entretenimento e não à arte. Jogou a decisão do mecenato nas mãos de marqueteiros de grandes empresas, que não estão nem aí para a cultura do país, mas estão muito aí para o marketing das empresas as quais representam.


Por exemplo, se eu fizer um filme, uma série de quadros, um peça, um musical, uma coreografia, ou o que for, falando sobre a derrama de óleo na Bahia de Guanabara, será que vou ter patrocínio da Petrobrás?

Duvido!

Ficam aí então as perguntas:

Onde está a arte do país?

Porque tanto entretenimento?

A quem serve essa lei Rouanet?

Posso fazer arte tranquilamente? Não vou ser punido por isso?

Parece um imbróglio esse texto, mas não tem jeito.

Uma discussão acaba levando à outra.

Tudo está interligado.

A vida é assim e a arte sabe disso.

Tomara que nossos artistas também.