sexta-feira, 31 de agosto de 2007

A hipocrisia que a mídia não vê e ainda nos esconde


Com o título "Prefeitura de São Paulo Interdita Café Milenium", o G1 - Portal Globo de Notícias - nos informa que a "O Café Millenium, boate da região central de São Paulo, foi interditado na noite desta quinta-feira (30), após operação que contou com agentes do Grupo de Operações Especiais (GOE) da Polícia Civil, representantes do Ministério Público (MP) e funcionários da prefeitura".


Tal interdição, ainda segundo o jornal, veio a pedido do Ministério Público, sob o argumento que o estabelecimento favorece à prostituição.


Pois bem, é preciso também avisar ao Ministério Público paulista e a imprensa brasileira que é preciso também interditar o Ministério do Trabalho e Emprego, pois o mesmo incluiu na CBO - Classificação Brasileira de Ocupações, a acupação no. 5198 - Profissionais do sexo, favorecendo dessa forma, a prostituição no Brasil.


A CBO, segundo consta em seu site, é o documento que reconhece, nomeia e codifica os títulos e descreve as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro. Sua atualização e modernização se devem às profundas mudanças ocorridas no cenário cultural, econômico e social do País nos últimos anos, implicando alterações estruturais no mercado de trabalho.


E é isso que não dá para entender, e nem ao menos somos levados pela mídia e pelo governo a ententer que, se a CBO, que nomeia e codifica os títulos e descreve as características das ocupações do mercado de trabalho brasileiro, incluiu em sua listagem a prostituição como profissão, porque fechar e lacrar o hotel que gerava emprego?


Para se ter uma idéia de como a CBO define essa atividade profissional, basta dar uma olhada na descrição sumária da profissão, onde está escrito que esses e essas profissionais "Batalham programas sexuais em locais privados, vias públicas e garimpos; atendem e acompanham clientes homens e mulheres, de orientações sexuais diversas; administram orçamentos individuais e familiares; promovem a organização da categoria. Realizam ações educativas no campo da sexualidade; propagandeiam os serviços prestados. As atividades são exercidas seguindo normas e procedimentos que minimizam as vulnerabilidades da profissão".


E ainda, em "condições gerais do exercício", podemos ler que "Trabalham por conta própria, na rua, em bares, boates, hotéis, porto, rodovias e em garimpos. Atuam em ambientes a céu aberto, fechados e em veículos, em horários irregulares. No exercício de algumas das atividades podem estar expostos à inalação de gases de veículos, a intempéries, a poluição sonora e a discriminação social. Há ainda riscos de contágios de DST, e maus-tratos, violência de rua e morte".


Bem, quem quiser aproveitar, pode ver a descrição toda no link http://www.mtecbo.gov.br/busca/condicoes.asp?codigo=5198 site da CBO, no portal do MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO DO GOVERNO FEDERAL.


Fica aqui então a pergunta , que a mídia poderia ter feito bem antes:


Se as profissionais e os profissionais do sexo no Brasil são reconhecidos como profissionais pelo MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO DO GOVERNO FEDERAL, assim como engenheiros, pedreiros, artistas, juízes e promotores, qual o motivo real da interdição da empresa? Ou será que o que está na CBO é apenas para inglês ver?


Qual seria então o papel da imprensa e da sociedade nesse momento? Pedir a interdição do MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO DO GOVERNO FEDERAL?


Talvez...


segunda-feira, 13 de agosto de 2007

As outras ingerências das agências

Muito se tem comentado esses dias sobre o papel da ANAC - Agência Nacional de Aviação Civil, no desenrolar do caos aéreo no Brasil. Essa semana até mesmo aconteceu uma reunião entre o ministro Jobim e as empresas de transporte aéreo civil.


Nessa reunião o ministro fez questão de deixar de fora a ANAC, então perguntamos: para que e para quem servem essas agências de verdade? Quem paga o salário desses caras? Nós, é claro!


Quem é um pouquinho inteirado em política e economia, e não precisa ser muito, sabe que essas agências foram criadas no momento das privatizações do governo FHC. Foi a forma encontrada, e bastante elaborada, de deixar as galinhas nas mãos das raposas.


Fica agora patente uma outra questão: se a ANAC funcionava desse jeitinho que está transparecendo agora, o que dizer das outras agências reguladoras? Não seguem as mesmas políticas?


Cabe a imprensa nesse momento trazer à tona a utilidade dessas agências. Queremos todos saber como elas funcionam de verdade e a quem elas servem, já que somos nós os patrões.


Ano passado liguei para ANS (Agência Nacional de Saúde) para efetuar reclamação do plano de saúde utilizado pelos meus pais. O atendente, na ocasião, disse que eu não poderia fazer uma reclamação formal da empresa prestadora de serviços, porque ela ainda não tinha nenhuma reclamação registrada até aquele momento.


Fiquei alguns segundos meditando para tentar entender se, eu é quem estava fazendo uma pergunta absurda, ou eu é quem estava recebendo uma resposta idiota. Insisti então para levar adiante uma reclamação formal e, novamente, o cidadão do outro lado da linha declarou que não poderia formalizar uma reclamação daquela empresa, pois a referida não tinha nenhum precedente de reclamação até o momento.


Como todo idiota, eu perguntei então, a partir de quando eu poderia fazer uma reclamação formal do plano de saúde, que estava negando uma cirurgia de urgência à minha mãe. E o cidadão me respondeu, com aquele sotaque de quem está lendo a partitura, que somente poderia abrir uma reclamação formal se a empresa tivesse algum precedente de reclamação.


Não, eu não estou brincando nem mentindo. Era isso mesmo que o cidadão da agência reguladora dos planos de saúde no Brasil tentava me enfiar guela abaixo.


Perguntei então novamente ao cidadão, como então seria possível fazer uma reclamação à agência, de uma empresa que não tivesse precedente de reclamações. O cidadão pediu que eu aguardasse no telefone, pois ele iria perguntar ao seu superior imediato como resolver a minha dúvida.

Fiquei mais ou menos uns quinze minutos esperando a resposta, quando a linha caiu.

Depois disso, tentei ligar várias vezes, mas não me atenderam mais naquela semana.

Descobri que a ANS além de ter uma lista negra de empresas que dão calote, também tem uma de gente chata que quer respostas que não podem ser respondidas.


Apenas depois de quinze dias consegui formalizar uma reclamação. Pensa que adiantou?


Fica pensando..........




domingo, 12 de agosto de 2007

A mídia, a vítima e o bandido


Mais uma vez a imprensa eletrônica perdeu a chance de informar melhor os seus usuários e adentrar aos fatos com mais rigor. Além disso colabora para o continuismo das relações perversas entre traficantes e moradores das favelas.


Com a matéria - Ferido em baile funk: 'Parecia uma guerra' - o G1, portal de notícias da Globo, fala sobre o tiroteio que aconteceu durante um baile funk na favela dos Antares, no Rio de Janeiro.


Durante esse tiroteio, que segundo a hipótese mais provável, foi causado por brigas entre facções rivais do tráfico, dez pessoas foram feridas e três menores morreram.


Para complementar a matéria, o jornal entrevista o Jovem Pedro Henrique, de 18 anos, que foi ferido no olho por uma bala. Segundo esse jovem, “uma pessoa chegou atirando para o alto, mas acho que deixou a arma cair no chão, e ela continuou atirando sozinha para todos os lados. Não sei quantas pessoas foram atingidas. Não consegui ver nada. Ouvi vários disparos. Um deles acertou em mim e depois só via vultos. Eu acho que foi um acidente. Parecia uma guerra. Tinha muita gente correndo para todos os lados”.


Pois bem, para esse jovem de 18 anos tudo não passou de um acidente. Dá para acreditar?


Deve ter sido um acidente o que levou um cara a ficar transitando com um fusil automático no meio da rua, entre um monte de gente, inclusive menores de idade.


Também deve ter sido um acidente o que fez com que, justo naquele momento, esse cara pensasse que a favela estava sendo invadida por outra gangue de marginais e, para proteger seu "patrimônio", atirasse para o alto como um "aviso" aos navegantes.


O que a reportagem deixa a desejar é que, com tamanho absurdo desses, ou seja, um jovem morador dizendo que "tudo parecia uma guerra" mas provavelmente "deve ter sido um acidente", ninguém teve a idéia de levantar a hipótese de que, ou a guerra já é normal por ali - por isso deve realmente ter havido um acidente de guerra, ou não foi acidente porcaria nenhuma e, provavelmente, esse jovem, cuja foto e nome saiu na internet, estava com isso querendo proteger a própria vida. Claro, porque depois que sair do hospital ele provavelmente vai ter que voltar para casa.


Fica também mais fácil para os jornalistas, divulgar o nome do garoto, do que o nome do bandido que deixou a arma escapar das mãos. O garoto inclusive não teve chance nenhuma de não ser exposto, pois estava sendo atendido numa maca de hospital. Presa fácil dos jornalistas de plantão. Parabéns ao jornal e aos jornalistas! Vocês estão de maneira clara, colcaborando para que os marginais conheçam pormenorizadamente as suas vítimas. Ou alguém aqui acha que os caras de agora em diante não vão ficar de olho no garoto? Ele é uma testemunha chave. Viu tudo e sofreu inclusive as consequências.


E o nome do cara da arma? Algum jornalista vai até a favela para perguntar? Não seria bom se o jornal também divulgasse o nome do bandido?


Vou ficar esperando...sentado.










quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Vai para China? Leva máscara!


Com o título "Poluição pode atrapalhar Jogos em Pequim, afirma Rogge " o Estadão on line trás matéria sobre as preocupações do senhor Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), em relação aos níveis, para ele alarmantes, de poluíção na china.


Segundo ainda o jornal, "Rogge chegou a afirmar que a poluição pode prejudicar algumas provas esportivas" e que "em esportes de resistência, como ciclismo, nos quais é preciso competir durante seis horas, poderemos ter que adiar as provas" e ainda "em entrevista ao canal de televisão americano CNN, Rogge afirmou que colocará "a saúde dos atletas em primeiro lugar''. "Teremos planos de contingência", disse.


Muito bem, creio que agora vamos poder saber e entender o que significa crescer 12% ao ano. Não vai dar para esconder milhões de toneladas de gases poluídores das imagesn de TV e das páginas dos jornais como têm sido feito até agora pelo governo chinês, claro que com ajuda da mídia internacional.
Gostaria mesmo de saber o que o senhor Rogge quis dizer com "Teremos planos de contingência". Será que vão parar as milhares de fábricas chinesas durante as olímpiadas e colocar ventiladores enormes mandando a fumaça para outras regiões da Àsia, ou vão distribuir máscaras, escafandros e balões de oxigênio para os atletas e espectadores?
O que finalmente o senhor Rogge e a imprensa não vão poder esconder, é que a China foi escolhida para sediar os jogos porque tem muito poder, muito dinheiro. Só não tem água potável e ar puro. E ninguém vai querer ficar de fora dessa montanha de ouro, mesmo que tenhamos, que daqui alguns anos, vender a Amazônia para um país que não terá mais como alimentar seus filhos. Mas tudo bem, com tanto dinheiro eles vão poder comprar a Àfrica inteira.
Vamos aguardar as transmissões dos jogos. Eu já estou preparando um dinheirinho para comprar uma TV digital. Quem sabe com ela eu vou poder acompanhar os eventos com melhor qualidade de imagem, já que a fumaça vai atrapalhar um pouco.







Parabéns, vocês merecem!


Circulou hoje no EstadÃO ÃO ÃO matéria sobre os risos provocados pelo ministro Mantega, ao dizer para centenas de empresários que assitiam a entrega do prêmio Melhores e Maiores da revista Exame, que a receita federal iria ficar com boa parte dos lucros dos bancos. Em suas próprias palavras salientou que "é lógico que a Receita Federal vai receber um bom pedaço desse lucro" e ainda arrematou o discurso dizendo "e o devolverá à sociedade".


Desse jeito não dá para segurar o riso mesmo, e foi extamente isso o que aconteceu. Ninguém aguentou tamanha piada.


De qualquer forma, a noite poderia ser bem pior se não fosse esse episódio, já que só mesmo pessoas muito ingênuas possam acreditar que dentre as Melhores e Maiores empresas do país escolhidas pela revista, estão nada mais nada menos que a TAM e a Telemar. Se alguém aqui tem alguma dúvida pode ir reclamar para o Papa.


A revista Exame identifica anualmente as 500 maiores empresas do País e elege as melhores em resultados de 18 setores, além de escolher a melhor de todas, que este ano foi a Santa Elisa, do setor de energia.

Por setor, as eleitas foram Officer (atacado), Fiat (auto-indústria), CBC (bens de capital), Natura (bens de consumo), Wirex (eletroeletrônico), Mantecorp (farmacêutico), Engevix (indústria da construção), Positivo (indústria digital), Samarco (mineração), Suzano (papel e celulose), Copesul (química e petroquímica), Visanet (serviços), Caraíba (siderurgia e metalurgia), Telemar (telecomunicações), Alpargatas (têxtil), TAM (transporte), Lojas Americanas (varejo), além da própria Santa Elisa (energia).


Acho que a revista Exame está realmente precisando de um Exame.

domingo, 5 de agosto de 2007

De como só existe uma saída ou a história de nós mesmos




Provavelmente ninguém aqui tem ouvido falar em outra coisa a não ser que os governos e os países devem ser democráticos.
Fico imaginando se essas informações, ou melhor, essas desinformações, também fossem tão enfatizadas em outras coisas que afetam nossas vidas.
Já pensaram, por exemplo, se essa moda pega pra valer?
Imaginem se todos os dias, durante anos e anos seguidos, os jornais, as revistas as televisões, ficassem martelando incansavelmente em nossas cabeças algumas frases tipo “só a democracia é um regime confiável” ou então “a economia do país em primeiro lugar” ou ainda “nossa salvação está no etanol” e ainda “a Petrobrás não polui”. Já pensou? Já pensou o que aconteceria com as novas gerações se algumas frases como “morar na favela é legal e chic” ou “se você não fizer uma faculdade não vai ser ninguém” ou ainda “trabalhar mais de oito horas por dia é normal” e, que tal “tudo que ouvimos na imprensa é verdade”?
Já pensou mesmo que triste seria assistir um povo inteiro, que de tão dominado por essas “crenças” não mais questionasse a própria existência e suas próprias vidas?
Vocês conhecem algum país assim? Onde as pessoas têm a certeza de que a economia é a causa da evolução de um povo e não o contrário e lógico, ou seja, que uma economia forte é conseqüência de um povo e de um país que evoluiu e cresceu?
Vocês conhecem um país onde as pessoas que moram nas favelas, em becos sujos e mal iluminados, que têm que subir duzentos degraus para chegar até seus barracos sem água encanada, que têm que passar todos os dias entre bandidos armados que distribuem drogas a seus filhos e, de vez em quando, ainda travam verdadeiras guerras com armas pesadas, com muitas baixas, e expõe os moradores aos perigos dessas guerras? E essas pessoas ainda assim achassem que é muito legal morar nesses buracos, no meio da pior ralé que pode existir dentro das sociedades, essa ralé formada por bandidos, traficantes, seqüestradores, estupradores. Você conhece um país com gente assim?
Vocês poderiam me dar como exemplo algum país cuja população acredita realmente que, depois de mais de trezentos anos do fim do ciclo da cana-de-açúcar, em pleno século XXI, cuja força dos países mais evoluídos está na capacitação tecnológica e no investimento em pesquisas de ponta, esse país e sua população passassem a acreditar que plantando cana novamente construiriam um país moderno? Que seus filhos seriam felizes plantando cana para grandes empresários e empresas multinacionais, mesmo que os defensores dessa política agrária soubessem que não existirá nenhuma chance dessa política dar certo, porque os indianos já descobriram que o sorgo produz muito mais álcool a um custo muito mais baixo?
Vocês talvez conheçam e possam me dizer, onde fica um país cuja população acredita de verdade que está sendo informada e que todas as informações que recebe não passam por nenhum crivo de censura prévia, por nenhum órgão governamental que escolha como as informações podem ou não podem circular e, cujas empresas distribuidoras de notícias não tenham vínculo de poder com esses mandatários? Vocês sabem onde fica esse país?
Vocês conhecem algum lugar cuja população acredita piamente que o regime democrático é o único que pode funcionar, mas que jamais deixaria de procurar um especialista quando o caso fosse saúde ou um problema no motor do automóvel? Vocês conhecem tal lugar? Um lugar onde as pessoas já não param seus afazeres para refletir se poderiam existir outras possibilidades de governo além de uma pseudodemocracia vigente, cujos governantes recebem o voto popular porque distribuem dinheiro aos mais pobres (que são a maioria) através do que eles chamam de “bolsas” de ajuda? Vocês podem me dizer onde fica tal lugar, cuja democracia é tão democrática que sua população é “obrigada” a votar? Vocês conhecem esse tal lugar? Esse lugar, esse país, esse estado cujas pessoas que ali sobrevivem já esqueceram que podem existir formas mais evoluídas de governo, tal como aquela que permite apenas aos bons, honestos, justos e capazes assumirem o poder?