domingo, 12 de agosto de 2007

A mídia, a vítima e o bandido


Mais uma vez a imprensa eletrônica perdeu a chance de informar melhor os seus usuários e adentrar aos fatos com mais rigor. Além disso colabora para o continuismo das relações perversas entre traficantes e moradores das favelas.


Com a matéria - Ferido em baile funk: 'Parecia uma guerra' - o G1, portal de notícias da Globo, fala sobre o tiroteio que aconteceu durante um baile funk na favela dos Antares, no Rio de Janeiro.


Durante esse tiroteio, que segundo a hipótese mais provável, foi causado por brigas entre facções rivais do tráfico, dez pessoas foram feridas e três menores morreram.


Para complementar a matéria, o jornal entrevista o Jovem Pedro Henrique, de 18 anos, que foi ferido no olho por uma bala. Segundo esse jovem, “uma pessoa chegou atirando para o alto, mas acho que deixou a arma cair no chão, e ela continuou atirando sozinha para todos os lados. Não sei quantas pessoas foram atingidas. Não consegui ver nada. Ouvi vários disparos. Um deles acertou em mim e depois só via vultos. Eu acho que foi um acidente. Parecia uma guerra. Tinha muita gente correndo para todos os lados”.


Pois bem, para esse jovem de 18 anos tudo não passou de um acidente. Dá para acreditar?


Deve ter sido um acidente o que levou um cara a ficar transitando com um fusil automático no meio da rua, entre um monte de gente, inclusive menores de idade.


Também deve ter sido um acidente o que fez com que, justo naquele momento, esse cara pensasse que a favela estava sendo invadida por outra gangue de marginais e, para proteger seu "patrimônio", atirasse para o alto como um "aviso" aos navegantes.


O que a reportagem deixa a desejar é que, com tamanho absurdo desses, ou seja, um jovem morador dizendo que "tudo parecia uma guerra" mas provavelmente "deve ter sido um acidente", ninguém teve a idéia de levantar a hipótese de que, ou a guerra já é normal por ali - por isso deve realmente ter havido um acidente de guerra, ou não foi acidente porcaria nenhuma e, provavelmente, esse jovem, cuja foto e nome saiu na internet, estava com isso querendo proteger a própria vida. Claro, porque depois que sair do hospital ele provavelmente vai ter que voltar para casa.


Fica também mais fácil para os jornalistas, divulgar o nome do garoto, do que o nome do bandido que deixou a arma escapar das mãos. O garoto inclusive não teve chance nenhuma de não ser exposto, pois estava sendo atendido numa maca de hospital. Presa fácil dos jornalistas de plantão. Parabéns ao jornal e aos jornalistas! Vocês estão de maneira clara, colcaborando para que os marginais conheçam pormenorizadamente as suas vítimas. Ou alguém aqui acha que os caras de agora em diante não vão ficar de olho no garoto? Ele é uma testemunha chave. Viu tudo e sofreu inclusive as consequências.


E o nome do cara da arma? Algum jornalista vai até a favela para perguntar? Não seria bom se o jornal também divulgasse o nome do bandido?


Vou ficar esperando...sentado.










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